As autoras nem sempre estão identificadas exclusivamente a partir da sua naturalidade; por vezes poderão estar identificadas a partir do espaço onde vivem ou a partir do qual o seu trabalho artístico e literário faz sentido. Estando incluídas várias autoras que pertencem às diásporas africanas - ou que nasceram no seio dessas diáspora, a delimitação e identificação do trabalho artístico e literário a partir de um espaço nacional faz progressivamente menos sentido porque as raízes e as suas vivências apontam para diferentes espaços e as escritas refletem esta multiplicidade e crescente desterritorialização nacional. São escritas que assentam em experiências-fronteira de sentidos - uma multiplicidade simbólica de periferias, agregando diferentes memórias e refletindo resistências a meros limites territoriais. Por isso mesmo, várias autoras serão frequentemente estudadas no âmbito do espaço luso-afro-brasileiro, numa confluência de experiências-fronteira.

CONCEIÇÃO LIMA

(São Tomé, 1961) cresceu em Santana, localidade onde nasceu e  fez os estudos primários e secundários. Estudou Jornalismo em Portugal, é licenciada em Estudos Afro‐Portugueses e Brasileiros pelo King’s College e Mestre em Estudos Africanos pela School of Oriental and African Studies (SOAS), ambas em Londres. Na mesma cidade foi, durante vários anos, jornalista e produtora dos Serviços de Língua Portuguesa da BBC, tendo exercido, antes disso, cargos de direção na rádio, na televisão e na imprensa são-tomenses.

GORETTI PINA

Nasceu na cidade de Santo António, no Príncipe, em 1976, ilha onde também cresceu. Exerce as suas atividades de escritora e designer de moda entre o arquipélago são-tomense e Portugal, onde reside desde 2000. Vencedora de vários prémios, tem publicado regularmente, poesia e romance, incluindo a coletânea de poemas Florir ao Sol das Palavras (2021), dirigida a um público infantojuvenil.  

Créditos: Marta Lança

Créditos: Marta Lança

ALDA DO ESPÍRITO SANTO

(São Tomé, 1926) é uma das mais relevantes figuras políticas e culturais do arquipélago. Em Portugal, onde estudou, colaborou com o Centro de Estudos Africanos e participou no boletim Mensagem, da Casa dos Estudantes do Império. Em Lisboa, a casa da sua tia Andreza, onde vivia, tornou‐se ponto de encontro para outros estudantes com preocupações pan‐africanistas, como o seu conterrâneo Francisco José́ Tenreiro, ou Mário de Andrade, Agostinho Neto e Amílcar Cabral. Regressada a S. Tomé em 1953, torna‐se professora do ensino primário.

Créditos: Vinícus Michel/Fundação CECIERJ

Créditos: Vinícus Michel/Fundação CECIERJ

MARIA MANUELA MARGARIDO

(Ilha do Príncipe, 1925) foi contemporânea de Alda Espírito Santo e colaboradora da Casa dos Estudantes do Império. A autora, casada com o ensaísta e professor universitário Alfredo Margarido, viveu alguns anos em Paris, onde desempenhou, entre outros, o cargo de secretária‐bibliotecária do Instituto de Estudos Portugueses e Brasileiros da Sorbonne.

OLINDA BEJA

(Guadalupe - S. Tomé e Príncipe, 1946) é filha de pai português e mãe são-tomense. Foi enviada pelo progenitor para viver em Portugal quando tinha 3 anos de idade, tendo regressado às ilhas apenas em 1985.

Algumas das autoras africanas que se analisam neste projeto iniciaram a sua produção literária nos últimos anos do período colonial português e muitas continuaram ou começaram a escrever depois das várias independências, conquistadas em 1975, em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. As várias obras das mulheres que integram o corpus deste projeto, não constituindo uma lista completa de todas as autoras que se encontram ativas nestes contextos, representam a relevância de analisar uma escrita que dá conta dos diferentes processos de violência e resistência a que se encontram sujeitas estas mulheres africanas. Entre eles, destacam-se vários aspetos de subalternidade política e social, assim como as experiências vividas durante a colonização portuguesa. Ter-se-á em conta os modos como as consequências deste passado se manifestam no dia-a-dia das mulheres destes países e o potencial de ação e reação a estes legados que a literatura exprime. A seleção de obras e autoras reflete ainda uma escrita que se configura como resistência a identidades nacionais pós-coloniais que foram dominantemente construídas em torno das vivências dos homens e de visões marcadas pelo patriarcalismo.