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WomenLit é um projeto que tem como objetivo analisar as configurações poético-literárias da resistência na produção literária e artística de autoria de mulheres publicada no espaço luso-afro-brasileiro no século XXI. A resistência, enquanto estímulo da atividade performativa e literária, decorre da perceção de desigualdades generalizadas à escala mundial, sejam elas de género, racial ou económica, entre outras. No que concerne a desigualdade de género, esta é uma questão que, embora tenha conhecido avanços significativos a partir de meados do século XX, ainda se encontra longe de estar ultrapassada. Se considerarmos o espaço luso-afro-brasileiro, as desigualdades de género estão ainda muito presentes. Segundo dados estatísticos publicados pelas Nações Unidas, e a título exemplificativo, o número de mulheres que ocupa lugares nos parlamentos nacionais varia entre 13,73% (S. Tomé e Príncipe) e 39,60% (Moçambique), com todos os valores referentes aos outros países de expressão oficial portuguesa registados neste intervalo. A participação da mulher no trabalho formal nestes países varia entre 28,8% (S. Tomé e Príncipe) e 78,1% (Moçambique). As Agendas Temáticas de Investigação e Inovação asseguradas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, decorrentes do compromisso com o Conhecimento e a Ciência assumido em Conselho de Ministros em 2016, refletem igualmente a dimensão da desigualdade ao determinar a Inclusão Social e Cidadania nas suas diferentes vertentes. Este projeto assume na construção da voz da mulher um modo de expressar resistência, dando visibilidade a projetos literários e artísticos que reagem contra as diversas expressões da desigualdade e injustiça. Discutir estes trabalhos como reflexos da desigualdade de género prevalecente e, particularmente, as estratégias criativas usadas para representar formas de resistência é contribuir para a promoção de uma melhor cidadania e inclusão social. A representação do “comum” e das especificidades da experiência de mulheres autoras no espaço luso-afro-brasileiro ilumina-se ao adotar uma abordagem comparatista e interseccional.
METODOLOGIA E OBJETIVOS
O presente projeto analisa produções artístico-literárias de mulheres portuguesas, brasileiras e africanas de expressão portuguesa, cruzando particularmente os olhares e as vozes brancas, negras, afrodescendentes, de etnia cigana e indígenas que resistem à ordem estrutural no espaço luso-afro-brasileiro e identificando as características específicas e comuns das recentes organizações culturais e políticas das mulheres periféricas que estruturam os seus projetos literários como resistência, nomeadamente em tempos de adversidade, como o exemplifica a produção artístico-literária em contexto de pandemia. Ao centrar a sua investigação nas configurações poético-literárias da resistência na escrita das mulheres neste espaço geográfico, este projeto discute igualmente a influência da pós-memória colonial, procurando compreendê-la como reflexo da memória das desigualdades de género que caracterizam a comunidade luso-afro-brasileira como espaço multicultural.
Este projeto, que conta com a participação de investigadores com trabalho publicado sobre temáticas relacionadas com mulheres, periferia e resistência, focará a publicação de material crítico sobre a resistência enquanto representação artístico-literária, procurando:
- analisar em que medida a literatura promove e atende as demandas políticas, sociais, raciais que estimulam esta escrita por mulheres;
- analisar as formas de divulgação e a formação do público leitor para a literatura periférica das mulheres;
- contribuir para uma historiografia literária, particularmente da chamada literatura marginal, no espaço luso-afro-brasileiro, assegurando a visibilidade da escrita das mulheres;
- analisar a produção de significados a partir dos distintos lugares de fala da mulher em obras de autoras portuguesas, brasileiras e africanas de expressão portuguesa, particularmente depois da instauração das independências no caso das últimas;
- Identificar nas obras dessas mulheres as formas como o legado de autoras que as precederam se manifesta e se renovam configurações de resistência.
Identificador DOI:
https://doi.org/10.54499/PTDC/LLT-LES/0858/2021