As autoras nem sempre estão identificadas exclusivamente a partir da sua naturalidade; por vezes poderão estar identificadas a partir do espaço onde vivem ou a partir do qual o seu trabalho artístico e literário faz sentido. Estando incluídas várias autoras que pertencem às diásporas africanas - ou que nasceram no seio dessas diáspora, a delimitação e identificação do trabalho artístico e literário a partir de um espaço nacional faz progressivamente menos sentido porque as raízes e as suas vivências apontam para diferentes espaços e as escritas refletem esta multiplicidade e crescente desterritorialização nacional. São escritas que assentam em experiências-fronteira de sentidos - uma multiplicidade simbólica de periferias, agregando diferentes memórias e refletindo resistências a meros limites territoriais. Por isso mesmo, várias autoras serão frequentemente estudadas no âmbito do espaço luso-afro-brasileiro, numa confluência de experiências-fronteira.
Créditos Humberto Brito

Créditos Humberto Brito

DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA

É escritora. Escreveu, entre outros, Esse cabelo, Luanda, Lisboa, Paraíso e Três Histórias de Esquecimento. Os seus livros estão publicados em Portugal, no Brasil, nos Estados Unidos da América, em Itália, na Argentina, nos países de língua alemã, na China e, em breve, em Árabe, Catalão, Dinamarquês e Eslovaco. Recebeu o Prémio Oceanos 2019 e 2020, o Prémio Fundação Inês de Castro 2018 e o Prémio Fundação Eça de Queiroz 2019. Doutorou-se em Teoria da Literatura na Universidade de Lisboa. Nasceu em Luanda e cresceu nos subúrbios de Lisboa.

ALEXANDRA LUCAS COELHO

(Lisboa, 1967). Foi jornalista, cobrindo conflitos em diversas zonas do mundo, tendo as suas reportagens sido premiadas várias vezes. Foi correspondente em Jerusalém e no Rio de Janeiro. O seu romance de estreia E a noite roda (Companhia das Letras, 2012), cuja ação se localiza, sobretudo, em Israel e na Palestina, ganhou o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE).

ALICE NETO DE SOUSA

(Lisboa,1993) é entre outros ofícios, uma poeta e artista da palavra falada, nascida em Portugal com raízes em Angola. No Brasil, em 2021, viu o seu poema “Terra” dar nome à coletânea “Do que ainda nos sobra da guerra” publicado na Editora Ipêamarelo.

GISELA CASIMIRO

(Guiné-Bissau, 1984) É escritora e artista, com formação em Estudos Portugueses e Ingleses. Publicou Erosão (poesia, Urutau, 2018) e é cronista do jornal Hoje Macau.

1964 - Direitos reservados

1964 - Direitos reservados

MARIA TERESA HORTA

Nasceu em 1937, em Lisboa, onde frequentou a Faculdade de Letras. Escritora e jornalista, foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal. É conhecida como uma das mais destacadas feministas portuguesas.

LUÍSA SEMEDO

(Lisboa, 1977) viveu no Bairro da Serafina antes de emigrar para França. Doutorada em Filosofia, com uma tese sobre a faculdade da empatia, pela Universidade Paris-Sorbonne. É conselheira das Comunidades Portuguesas. É professora no ensino secundário nos arredores de Paris.

MANUELLA BEZERRA DE MELO

Autora de Pés Pequenos pra Tanto Corpo (Urutau, 2019, 2023), Pra que roam os cães nessa hecatombe (Macabea, 2020) e Um Fado Atlântico (Urutau, 2022), organizou dois volumes da coleção de antologias Volta para Tua Terra (Urutau, 2021; 2022).

OLGA MARIANO

(Évora, 1950) é mediadora sociocultural, ativista pelos direitos da comunidade Roma (cigana) e poeta portuguesa Roma. Mudou-se para a freguesia da Amora, conselho do Seixal, na margem sul do Tejo, ainda criança. Formadora da história e cultura cigana, com o certificado emitido pelo Centro de Formação profissional do Seixal desde 2009.

PATRÍCIA MOREIRA

(Lisboa, 1988), filha e neta de imigrantes cabo-verdianos. Licenciada em Ciências da Linguagem pela Universidade de Aix-Marseille, França, Mestre em Português, Língua Não-Materna pela Universidade do Minho. Voltou para França, onde trabalhou como assistente de língua em Montpellier e Marselha e regressou novamente a Lisboa.

RAQUEL LIMA

(Lisboa, 1983) poeta, performer, arte-educadora, licenciada em Estudos Artísticos e doutoranda em Estudos Pós-Coloniais, em torno da oratura, escravatura e movimentos afrodiaspóricos. Tem apresentado o seu trabalho poético em vários países da Europa, América do Sul e África em eventos de literatura e performance, nomeadamente na FLIP, FLUP Rio, FOLIO e Palavras Andarilhas.

SAMARA RIBEIRO

É escritora (poeta e contista). Licenciada em Psicologia e Filosofia, nasceu no Rio de Janeiro (BR) e é indígena de origem Kariri. Atualmente conclui o mestrado em Psicologia Clínica do Instituto Universitário de Ciência Psicológica, Sociais e da Vida (ISPA), em Lisboa (PT).

TELMA TVON

(Luanda, 1980) Tendo emigrado para Portugal em 1993, foi uma das primeiras MCs em Portugal. Licenciada em Estudos Africanos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Mestre em Serviço Social pelo ISCTE. Encontra-se a trabalhar num projeto de intervenção social que tem como objetivo primordial conter a taxa de abandono escolar do ensino secundário na zona de Sintra, Lisboa.

YARA NAKAHANDA MONTEIRO

(Huambo, 1979) tem as suas raízes familiares no Planalto Central de Angola e no Norte de Portugal. Com 2 anos de idade, foi com a mãe e a família materna para Portugal e cresceu na Margem Sul.

ELLEN LIMA

É poeta, artista, escritora e pesquisadora indígena de origem Wassu Cocal. É mestre em Artes (UERJ) e atualmente cursa doutoramento em Modernidades Comparadas: Literaturas, Artes e Culturas na Universidade do Minho, onde desenvolve pesquisa que interroga imagens sobre corpos indígenas como narrativas de expropriação de identidades.

HÉLIA CORREIA

Hélia Correia nasceu em 1949, em Lisboa, estreou-se muito nova com poesia em suplementos literários e antologias e enquanto romancista com O separar das águas (A Regra do Jogo, 1981). Seguiram-se O número dos vivos (Relógio D’Água, 1982), Montedemo (Ulmeiro, 1983), Villa Celeste: novela ingénua (Ulmeiro, 1985), Soma (Relógio D’Água, 1987), A fenda erótica (O Jornal, 1988), A luz de Newton (Relógio D’Água, 1988), A casa eterna (Círculo de Leitores, 1991), Insânia (Relógio D’Água, 1996), Lillias Fraser (Relógio D’Água, 2001; prémio P.E.N. Clube 2001), Bastardia (Relógio D’Água, 2005), Adoecer (Relógio D’Água,2010) e Um Bailarino na Batalha (Relógio D’Água, 2018; Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores). Escreveu ainda para teatro Perdição: exercício sobre Antígona; seguido de Florbela: teatro (Dom Quixote, 1991), O rancor: exercício sobre Helena (Relógio D’Água, 2000) e Desmesura: exercício com Medeia (Relógio D’Água, 2006). 

MARGARIDA PAREDES

é natural do Penedo da Saudade em Coimbra. Viveu em Angola e Moçambique coloniais, acompanhando os pais. Aderiu ao MPLA em 1973, com 19 anos, quando estudava na Universidade de Lovaina. Passou por Brazzaviile e foi uma das primeiras militantes vindas do Congo a entrar em Luanda após o 25 de abril de 1974.

ISABELA FIGUEIREDO

nasceu em Lourenço Marques, Moçambique, hoje Maputo, em 1963, filha de portugueses oriundos da zona Centro-Oeste de Portugal. Após a independência de Moçambique, em 1975, rumou a Portugal. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Especializou-se em Estudos sobre Mulheres na Universidade Aberta. Trabalhou como jornalista no Diário de Notícias, entre 1988 e 1994, onde também foi coordenadora do suplemento DN Jovem. Foi professora de português no ensino secundário.

FREDA PARANHOS

Freda Paranhos, brasileira, travesti, 31 anos,  é roteirista, dramaturga e escritora, além de uma pesquisadora ativa no campo dos estudos cinematográficos, concentrando-se na análise do cinema cuír como forma de arte-resistência, com foco especial nos corpos dissidentes do sul global e suas representações. 

MARIA VIANA

É brasileira e atualmente vive em Lisboa, onde é doutoranda da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) e membro do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (IEL-UNL). Foi assistente de investigação no Centro de Humanidades (CHAM-UNL).

As autoras escolhidas mostram a diversidade de vozes que compõe a literatura portuguesa contemporânea, particularmente a partir da segunda década de 2000, e que vai muito para além do a que se encontra representada numa escolha de vozes de escritoras consagradas na literatura portuguesa. Muitas são autoras cuja escrita reflete não só a complexa herança do legado colonial português no século XXI como participa numa discussão mais alargada que desafia as narrativas de memória coletiva hegemónica, e também os vários matizes da história da exclusão e segregação de género, em que também se cruzam as discriminações étnico-raciais e culturais. Por isso mesmo, muitas são luso-africanas, afrodescendentes, de origem Roma/cigana, autoras portuguesas brancas cuja escrita reflete o impacto de muitas dessas discriminações e silenciamentos e autoras brasileiras que se encontram a residir em Portugal, com produção literária publicada neste país.