As autoras nem sempre estão identificadas exclusivamente a partir da sua naturalidade; por vezes poderão estar identificadas a partir do espaço onde vivem ou a partir do qual o seu trabalho artístico e literário faz sentido. Estando incluídas várias autoras que pertencem às diásporas africanas - ou que nasceram no seio dessas diáspora, a delimitação e identificação do trabalho artístico e literário a partir de um espaço nacional faz progressivamente menos sentido porque as raízes e as suas vivências apontam para diferentes espaços e as escritas refletem esta multiplicidade e crescente desterritorialização nacional. São escritas que assentam em experiências-fronteira de sentidos - uma multiplicidade simbólica de periferias, agregando diferentes memórias e refletindo resistências a meros limites territoriais. Por isso mesmo, várias autoras serão frequentemente estudadas no âmbito do espaço luso-afro-brasileiro, numa confluência de experiências-fronteira.

AIDA GOMES

(Huambo, Angola) angolana de nascimento, veio com o pai para Portugal, depois da independência, fugindo à guerra civil. Vive, desde 1985, nos Países Baixos, tendo feito um Mestrado sobre processos históricos e políticos na África Subsariana.

ALDA LARA

Pseudónimo literário de Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque (Benguela, 1930 - Cambambe, 1962), foi uma poetisa portuguesa de origem angolana, que criou uma grande produção poética, publicada apenas após a sua morte, através da recolha dos seus poemas feita pelo seu marido. Nasceu em Benguela, em 1930, sendo irmã do poeta Ernesto Lara Filho. Ainda nova mudou-se para Lisboa, onde concluiu o 7º ano do Liceu.

PAULA TAVARES

(Lubango, 1952) nome enquanto autora de poesia e ANA PAULA TAVARES, nome enquanto autora de romance e historiadora, pseudónimos literários de Ana Paula Ribeiro Tavares. Passou parte da sua infância naquela província, onde fez os seus estudos primários e secundários.

DYA KASEMBE

É pseudónimo literário de Amélia de Fátima Cardoso, nascida em 1946, em Mumbondu-Muxima, município de Kisama, Província do Bengo, e neta de Bamba Kasembe, um Soba Grande da região que vai do Dondo, Kwanza-Norte, ao Amboim, Kwanza-Sul. Fez escolaridade primária e secundária no Colégio de S. José do Cluny. 

ROSÁRIA DA SILVA

(Golungo Alto, 1959) é romancista, cronista, poetisa e declamadora, sendo professora de profissão. Licenciada em Linguística (português), pelo Instituto Superior de Ciências de Educação (ISCED) da Universidade “Agostinho Neto”, em Luanda. Foi colaboradora do jornal Kilamba, no Lobito nos anos 80, destacando-se na publicação de poemas e artigos seus na página de “Cultura e Mulher”. 

ISABEL FERREIRA

(Luanda, 1958), licenciada em Direito em Luanda e em Dramaturgia pela Escola Superior de Teatro e Cinema, na Amadora, Portugal. Advogou em Huíla e em Luanda. O período de 1974-75 mostra-se um marco decisivo na sua vida, pois data desta época a sua entrada para as fileiras das forças Armadas de Libertação de Angola (F.A.P.L.A). 

MARIA CELESTINA FERNANDES

(Lubango, 1945). Ainda muito jovem foi para Luanda, e nesta cidade cresceu e fez toda a sua formação. É Assistente Social e licenciada em Direito. Dentre as várias funções que exerceu, destaca-se o serviço prestado no Banco Nacional de Angola, onde chefiou o departamento social e posteriormente passou para a área jurídica, aposentando-se na categoria de subdiretora. Iniciou a carreira literária no início da década de oitenta. 

NGONGUITA DIOGO

(Kwanza-Norte, 1963), pseudónimo literário de Etelvina da Conceição Alfredo Diogo. Licenciada em Administração de Empresas. Membro da Academia de Letras do Brasil de São José do Rio Preto, cidade de São Paulo, tendo recebido uma distinção do Centro Cultural Brasil-Angola, em Luanda.

MARTA SANTOS

(Luanda, 1963) foi viver para o Bié com 9 anos e, com 15 anos, foi viver para o Porto, Portugal, onde se licenciou em Direito pela Universidade Moderna do Porto. Conclui igualmente um curso de artes plásticas.  Divide a sua vida entre Portugal e Angola.

IRENE A'MOSI

Artista multidisciplinar: Realizadora, poeta, roteirista, artista de voz, atriz, escritora e tudo o que se permite ser. Revelo-me como narradora de hábitos e costumes da minha geração, usando narrativas simples num jogo de expressões culturais próprias e comuns tendo como instrumento de trabalho a memória coletiva das pessoas da minha época. Eternizo memórias através da palavra falada desde muito cedo mas, foi com os meus 17 anos que me vi desborboletando para os palcos e pela primeira vez abrir portas para uma nova viagem. Nascida em Luanda, considero-me uma jovem mergulhada em sonhos e quereres.

Algumas das autoras africanas que se analisam neste projeto iniciaram a sua produção literária nos últimos anos do período colonial português e muitas continuaram ou começaram a escrever depois das várias independências, conquistadas em 1975, em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. As várias obras das mulheres que integram o corpus deste projeto, não constituindo uma lista completa de todas as autoras que se encontram ativas nestes contextos, representam a relevância de analisar uma escrita que dá conta dos diferentes processos de violência e resistência a que se encontram sujeitas estas mulheres africanas. Entre eles, destacam-se vários aspetos de subalternidade política e social, assim como as experiências vividas durante a colonização portuguesa. Ter-se-á em conta os modos como as consequências deste passado se manifestam no dia-a-dia das mulheres destes países e o potencial de ação e reação a estes legados que a literatura exprime. A seleção de obras e autoras reflete ainda uma escrita que se configura como resistência a identidades nacionais pós-coloniais que foram dominantemente construídas em torno das vivências dos homens e de visões marcadas pelo patriarcalismo.