As autoras nem sempre estão identificadas exclusivamente a partir da sua naturalidade; por vezes poderão estar identificadas a partir do espaço onde vivem ou a partir do qual o seu trabalho artístico e literário faz sentido. Estando incluídas várias autoras que pertencem às diásporas africanas - ou que nasceram no seio dessas diáspora, a delimitação e identificação do trabalho artístico e literário a partir de um espaço nacional faz progressivamente menos sentido porque as raízes e as suas vivências apontam para diferentes espaços e as escritas refletem esta multiplicidade e crescente desterritorialização nacional. São escritas que assentam em experiências-fronteira de sentidos - uma multiplicidade simbólica de periferias, agregando diferentes memórias e refletindo resistências a meros limites territoriais. Por isso mesmo, várias autoras serão frequentemente estudadas no âmbito do espaço luso-afro-brasileiro, numa confluência de experiências-fronteira.

KARINE BASSI

Pseudónimo literário de Karine Silva Oliveira. O seu trabalho editorial serão abordados nesse primeiro momento, tendo como destaque a obra referida acima a qual será analisada em detalhe como também, o segundo volume da coletânea: Raízes – Resistência Histórica,Volume II, e Ancestralidades – Escritores Negros, através dos quais chegaremos a muitos autoras e obras para este projeto.

MARIA VILANI

(n.1950) é cearense, migrou para São Paulo, onde está radicada na periferia da capital, no Bairro Grajaú, zona Sul. Em 1984, nesse mesmo Bairro, passou a integrar um coletivo de mulheres. Em 1989, retomou os estudos no Ensino Médio. 

DALVA MARIA SOARES

Participa das coletâneas Raízes - escritoras negras: resistência histórica (Venas Abiertas, 2018), Raízes - escritoras negras: resgate ancestral (Venas Abiertas, 2019) e Ócios no ofício: antologia poética (Venas Abiertas, 2020); Para diminuir a febre de sentir (Venas Abiertas, 2020) e Do menino (Venas Abiertas, 2021).

LILIA GUERRA

(São Paulo, 1976). Em 2014, publicou o romance Amor Avenida, pela Editora Oitava Rima. Contribuiu com as coletâneas Contos & causos do Pinheirão e Taras, Tarô e Outros Vícios com os coletivos Armário do Mário e Palavraria. Participou de oficinas e ateliês literários.

ZAINNE LIMA DA SILVA

(1994) nasceu e vive em Taboão da Serra, interior de São Paulo. Em 2018, publicou Pequenas ficções de memória, pela editora Patuá, dividido em três segmentos – Lembranças, Reminiscências, Recordações – constituído por narrativas quase sempre em primeira pessoa.

ELIANE POTIGUARA

(Rio de Janeiro, 1950) é escritora, poeta, ativista, e professora, descendente do povo dos potiguara de seus avós, migrantes nordestinos. É formada em Educação e Letras pela UFRJ e em Educação e Meio ambiente pela UFOP.  Conselheira da Fundação Palmares, membro da organização internacional ASHOKA (empreendedores sociais).

MÁRCIA WAYNA KAMBEBA

(Nome artístico de Márcia Vieira da Silva) (Tabatinga, 1979) é uma poeta e geógrafa brasileira. De etnia Omágua/Kambemba nasceu numa aldeia Ticuna em 1979. Viveu ali até os oito anos de idade, quando se mudou com a família para São Paulo de Olivença. É graduada em Geografia pela Universidade de Estado do Amazonas (UEA).

ALINE PACHAMAMA

(Puri) Mulher originária do Povo Puri da Mantiqueira. Historiadora, escritora e ilustradora, é doutora em História Cultural pela UFRRJ. É também a idealizadora e fundadora da Pachamama Editora, uma editora formada por mulheres originárias/indígenas.  Em julho de 2016, com o projeto de Reparação Linguística, Histórica e Cultural da Pachamama Editora, começa a publicar os primeiros livros bilíngues e polilíngues de originários.

GRAÇA GRAÚNA (Potiguara)

(São João do Campestre, 1948) é o pseudônimo de Maria das Graças Ferreira. Escritora, crítica literária e professora de literatura e direitos humanos. Indígena Potiguara, nasceu em 1948, em São José do Campestre - Rio Grande do Norte. Integra o grupo de Escritores Indígenas. É graduada, Mestre e Doutora em Letras, pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Pós-doutorada em Educação e Direitos Humanos, pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP.

ALINE KAYAPÓ

(Belém do Pará) filha de mãe descendente Aymara e pai Kayapó. Escritora e ativista dos movimentos das mulheres indígenas e direitos dos povos indígenas. Membro fundador da Coletiva Terra e membro do GRUMIN, grupo de mulheres indígenas liderado por Eliane Potiguara.

SHIRLEY DJUKURNÃ

(Krenak) (Rio Doce, 1981) pertence ao povo indígena Krenak do leste de Minas Gerais, Brasil. Formada em Jornalismo, publicidade e propaganda, atua na defesa dos direitos indígenas e dos rios sagrados contra a mineração. É escritora indígena, com livros publicados: A onça protetora e Cartilha Krenak.

FERNANDA VIEIRA

(Xocó) (Rio de Janeiro), (sub)urbana carioca, mestiça, Indígena, Indígenodescendente, descendente Xokó pelo pai, com suas raízes paternas em Aracaju (SE). Raízes maternas no subúrbio carioca. Ativista, escritora, professora, tradutora e pesquisadora.

TRUDRUÁ DORRICO

(Macuxi) (Guarajá-Mirim, 1991) nasceu nas terras da cachoeira pequena, mais conhecida como Guajará-Mirim. Porém, foi nas margens do Rio Madeira, onde cresceu que ouviu as histórias que sua mãe contava “dessas gentes que viviam lá quando acaba o Rio Amazonas”. É Doutora em Teoria Literária pela PUC-RS e curadora de literatura indígena.

ZÉLIA BALBINA

(Ponã Puri) Produtora Cultural, Escritora, Poeta, atriz e pesquisadora; Embaixadora da Paz pelo Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix - Suisse/France. Cofundadora do Movimento de Ressurgência Puri – MRP, Membro da Associação Internacional de Poetas, Membro da Academia Panamericana de Letras e Artes, Membro do InBrasCI (Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais) e Membro do Movimento de Poetas Del Mundo (do Chile).

ROSI WHAIKON

Rosilene Pereira é indígena do povo Waíkhana, também reconhecido como Piratapuia. Indígena brasileira, ativista, poetisa, cientista/ ex-diretora da Federação das Organizações indígenas do Rio Negro – FOIRN, ex-bolsista do International Fellowships Program – IFP da Fundação Ford no ano de 2010, é Mestre em Antropologia Social – UFAM, com a dissertação intitulada Criando Gente no Alto Rio Negro um olhar Waíkhana, onde fez um estudo sobre conhecimentos indígenas na educação de crianças , analisando os aconselhamentos, as narrativas, e saberes acerca de temas como captura de peixes, insetos e manejo de mandioca. 

As periferias brasileiras são dotadas de continuidades que não se limitam às fronteiras nacionais. Destaca-se nas culturas periféricas a presença cada vez mais ativa das mulheres e um traço em comum: a violência de gênero, o desamparo das chamadas mães solo, o racismo, a pobreza e a luta pela sobrevivência cotidiana em tais condições. Em alguns casos, a literatura é a motivação, a arma e a forma de lutar. O corpus literário está alinhado com tais aspectos em comum sem, no entanto, preterir a representação local e regional, chamadas de ?territórios? pelas populações periféricas brasileiras, indicando uma cartografia importante e uma categoria de análise incontornável das periferias em um país diverso na perspectiva cultural e étnico-racial. Neste recorte, estão não apenas escritoras, mas mulheres que escrevem e ajudam outras mulheres a escrever e falar, que realizaram nas periferias muitos projetos e ações para a promoção da literatura e da escrita de mulheres, como edições de livros, encontros, saraus e feiras literárias.