As autoras nem sempre estão identificadas exclusivamente a partir da sua naturalidade; por vezes poderão estar identificadas a partir do espaço onde vivem ou a partir do qual o seu trabalho artístico e literário faz sentido. Estando incluídas várias autoras que pertencem às diásporas africanas - ou que nasceram no seio dessas diáspora, a delimitação e identificação do trabalho artístico e literário a partir de um espaço nacional faz progressivamente menos sentido porque as raízes e as suas vivências apontam para diferentes espaços e as escritas refletem esta multiplicidade e crescente desterritorialização nacional. São escritas que assentam em experiências-fronteira de sentidos - uma multiplicidade simbólica de periferias, agregando diferentes memórias e refletindo resistências a meros limites territoriais. Por isso mesmo, várias autoras serão frequentemente estudadas no âmbito do espaço luso-afro-brasileiro, numa confluência de experiências-fronteira.

PATRÍCIA GODINHO GOMES

(Angola, 1972), guineense, nascida em Luanda, é Senior Program Officer for Research no CODESRIA (Council for the Development of Research  in Social Sciences in Africa) e Professora Associada permanente do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos-Pós Afro, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Licenciada em Relações Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas - ISCSP, da Universidade Técnica de Lisboa, com especialização em Estudos Africanos (1995). Doutora em História e Instituições da África (2002) e pós-doutorada em História da África pela Università degli Studi di Cagliari (2006-2010) e em Estudos Africanos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) (2014/2018).

ODETE DA COSTA SEMEDO

(Bissau, 1959). Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Regressou à Guiné-Bissau em 1990 e assumiu a Coordenação Nacional do Projeto de Língua Portuguesa no Ensino Secundário, financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian.

HELENA NEVES ABRAHAMSSON

(Bissau, 1962) é licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa. Trabalhou como advogada e durante toda a sua vida na área dos direitos humanos, particularmente em questões de desenvolvimento, género, mulher e criança. Ao longo dos anos viveu e trabalhou em diversos países e continentes, nomeadamente, na Guiné-Bissau, na sub-região da África Ocidental, Angola, Suécia, Nicarágua e Camboja.

YASMINA NUNY SILVA

(Lisboa, 1997), é uma poetisa e jornalista da Guiné-Bissau e viveu em vários países da África Austral. Tem um bacharelato em Economia Política e um Mestrado em Estudos Africanos pela Universidade de Birmingham, Reino Unido.

ANTONIETA ROSA GOMES

Antonieta Rosa Gomes é licenciada em Direito com especialização na área do Direito Político, Administrativo e Financeiro, pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) de 1987-1994. Nasceu em Bissau- Guiné Bissau. É Mestre em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo. Foi candidata nas eleições presidenciais de 1994, 1999 e 2005, tendo sido a primeira mulher candidata na Guiné-Bissau e na África ocidental.
 

JAMILA PEREIRA

Jamila Pereira é jornalisa bissau-guineense e poeta. Licenciada em Relações Internacionais, vive em Leeds. O seu trabalho encontra-se escrito em línguas portuguesa e inglesa, disponível em plataformas, tais Black Ballad, The Republic, BANTUMEN,, entre outras, onde explora os trânsitos culturais e as políticas de identidade das mulheres negras na diáspora e não só. É igualmente especialista em questões relacionadas com migrações e processos de violência baseada em género. Foi selionada para a lista dos Top 20 Merky Books Writers's Camp 2019 e é co-autora de três antologias antirracistas e políticas, publicadas pela Editora Urutau.



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Algumas das autoras africanas que se analisam neste projeto iniciaram a sua produção literária nos últimos anos do período colonial português e muitas continuaram ou começaram a escrever depois das várias independências, conquistadas em 1975, em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. As várias obras das mulheres que integram o corpus deste projeto, não constituindo uma lista completa de todas as autoras que se encontram ativas nestes contextos, representam a relevância de analisar uma escrita que dá conta dos diferentes processos de violência e resistência a que se encontram sujeitas estas mulheres africanas. Entre eles, destacam-se vários aspetos de subalternidade política e social, assim como as experiências vividas durante a colonização portuguesa. Ter-se-á em conta os modos como as consequências deste passado se manifestam no dia-a-dia das mulheres destes países e o potencial de ação e reação a estes legados que a literatura exprime. A seleção de obras e autoras reflete ainda uma escrita que se configura como resistência a identidades nacionais pós-coloniais que foram dominantemente construídas em torno das vivências dos homens e de visões marcadas pelo patriarcalismo.