As autoras nem sempre estão identificadas exclusivamente a partir da sua naturalidade; por vezes poderão estar identificadas a partir do espaço onde vivem ou a partir do qual o seu trabalho artístico e literário faz sentido. Estando incluídas várias autoras que pertencem às diásporas africanas - ou que nasceram no seio dessas diáspora, a delimitação e identificação do trabalho artístico e literário a partir de um espaço nacional faz progressivamente menos sentido porque as raízes e as suas vivências apontam para diferentes espaços e as escritas refletem esta multiplicidade e crescente desterritorialização nacional. São escritas que assentam em experiências-fronteira de sentidos - uma multiplicidade simbólica de periferias, agregando diferentes memórias e refletindo resistências a meros limites territoriais. Por isso mesmo, várias autoras serão frequentemente estudadas no âmbito do espaço luso-afro-brasileiro, numa confluência de experiências-fronteira.
NOÉMIA DE SOUSA
(1926 – 2002), pseudónimo literário de Carolina Noémia Abranches de Sousa, poetisa, tradutora e jornalista, nasceu em Lourenço Marques, mais particularmente na Catembe, hoje distrito Municipal de Maputo, Moçambique. Em 1951, por razões políticas, exilou-se em Lisboa, onde viveu até à sua morte.
LICA SEBASTIÃO
(Maputo,1963), hoje professora, escritora, pintora e escultora, fez todo o seu percurso estudantil na cidade de Maputo. Formou-se como professora de Português para 7ª, 8ª e 9ª classes na Faculdade de Educação, Universidade Eduardo Mondlane, em 1983. Obteve o grau de licenciatura em Ensino do Português como Língua Segunda, em 1994, no então Instituto Superior Pedagógico, atualmente Universidade Pedagógica, em Maputo.
PAULINA CHIZIANE
Escritora moçambicana nasceu em 1955, na província de Gaza. Cresceu nos subúrbios da cidade de Maputo, então Lourenço Marques. Nasceu numa família protestante. No seu meio familiar e social socializou-se em duas línguas: o Chope e o Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola de uma missão católica.
ÉNIA LIPANGA
Enia Lipanga, nasceu no dia 04 de Abril, é rapper, poetisa e activista social para a defesa dos Direitos humanos da Mulher e advoga na área da inclusão social.
TERESA NORONHA
A escritora nasceu em Moçambique, em 1965, tendo-se licenciado em 1986 pela Universidade Eduardo Mondlane. Viveu em Montpellier, onde frequentou o mestrado em Desenvolvimento Rural e, em 1991, muda-se para Portugal, onde trabalhou como professora, tradutora e editora, tendo sido sócia-fundadora da Íman Edições no início da década de 2000. Em 2004 regressa a Moçambique, onde trabalha como editora na EPM-CELP.
Algumas das autoras africanas que se analisam neste projeto iniciaram a sua produção literária nos últimos anos do período colonial português e muitas continuaram ou começaram a escrever depois das várias independências, conquistadas em 1975, em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe. As várias obras das mulheres que integram o corpus deste projeto, não constituindo uma lista completa de todas as autoras que se encontram ativas nestes contextos, representam a relevância de analisar uma escrita que dá conta dos diferentes processos de violência e resistência a que se encontram sujeitas estas mulheres africanas. Entre eles, destacam-se vários aspetos de subalternidade política e social, assim como as experiências vividas durante a colonização portuguesa. Ter-se-á em conta os modos como as consequências deste passado se manifestam no dia-a-dia das mulheres destes países e o potencial de ação e reação a estes legados que a literatura exprime. A seleção de obras e autoras reflete ainda uma escrita que se configura como resistência a identidades nacionais pós-coloniais que foram dominantemente construídas em torno das vivências dos homens e de visões marcadas pelo patriarcalismo.