1. Quem és e como te descreverias? Qual o teu percurso (de vida, artístico, intelectual)?
- Sou a Jamila Pereira, uma mulher Bissau-Guineense nos meus 30 e poucos anos, nascida e criada em Portugal. Embora tenha passado a minha adolescência em Portugal, foram os anos mais cruciais da minha vida que vivi no Reino Unido, onde me estabeleci como migrante. Sou a filha mais velha de uma família africana, irmã gémea, sobrevivente de abuso sexual, viajante que encontra conforto nas portas de embarque dos aeroportos, e uma entusiasta pela política. Depois de muitos anos a tentar entender pelo que valia a pena lutar na vida, com o apoio da minha terapeuta, redescobri um passatempo esquecido e embarquei numa jornada pouco comum para muitas mulheres negras migrantes como eu: tornei-me escritora.
Hoje, embora pareça que estou constantemente a remar contra a maré, sinto que abençoo o mundo com cada pensamento que flui em mim. Desde as políticas de identidade e as mudanças culturais até à poesia e coautoria, posso afirmar com orgulho que encontrei o meu propósito. Sou escritora freelance, analista cultural, coautora de três livros, especialista em violência baseada no género, facilitadora, poeta, finalista do Merky Books Writer’s Prize 2019, oradora pública e uma agitadora de primeira categoria.
Curiosamente, não cresci a ler como muitos autores ou académicos. Ser a filha mais velha numa família africana e uma rapariga negra de pele escura na Europa implicou uma vida bastante diferente das outras crianças à minha volta. Embora os meus pais me tenham dado a liberdade de ler, a pressão social e as expectativas parentais para que eu fosse academicamente exemplar criaram em mim uma aversão à leitura. Foi só na minha adolescência tardia, quando saí de casa, que finalmente encontrei prazer nos livros. O primeiro livro que li foi "A Lua de Joana" de Maria Teresa Maia Gonzalez, e não poderia ter escolhido um ponto de partida melhor para esta jornada. Hoje, tanto a leitura como a escrita são duas coisas sem as quais não me imagino a viver.
Tal como muitos artistas e escritores, as minhas experiências de vida e as lições que fui aprendendo ao longo do caminho moldaram profundamente o meu trabalho e a forma como procuro alcançar os outros. Escrever é, para mim, um ato de resistência, uma forma de reivindicar o meu espaço num mundo que muitas vezes nos nega voz, e de partilhar histórias que, de outra forma, poderiam nunca ser ouvidas.
2. A que tipo de escrita te dedicas? A tua prática transita entre vários tipos de escrita ou entre várias artes?
- Dedico-me principalmente à escrita de poesia e não-ficção, mas também estou a trabalhar num romance de ficção. Embora a minha prática seja maioritariamente na área da não-ficção, ela transita com naturalidade por diferentes estilos de escrita, incluindo o expositivo, o persuasivo, o narrativo e o descritivo. A minha jornada como escritora começou com a poesia, e essa influência poética é evidente em tudo o que escrevo, mesmo em trabalhos investigativos ou académicos. Acredito que a escrita deve ser emotiva, e por isso, cada frase que construo carrega um peso, uma profundidade que convida os leitores a sentirem cada palavra, imergindo na realidade dolorosa de que a colonialidade persiste. A minha escrita não procura apenas informar, mas também desafiar e desconstruir as estruturas de poder e opressão que ainda moldam o mundo em que vivemos. É uma prática que se situa entre a criação literária e a resistência política, sempre com a intenção de tocar o coração e a mente de quem lê.
3. Sobre o que é que costumas escrever? Para quem escreves e porque? Qual é o teu texto ou obra que tem uma relevância especial para ti, ou que te marcou como profissional, artista e como mulher? Escreves em várias línguas?
- Nos últimos anos, tenho vindo a refletir sobre a maneira como interpreto certas questões, e a pergunta "Sobre o que é que costumas escrever?" surge-me agora com uma nova nuance. Talvez a pergunta correta seja: "Sobre o que é que eu não escrevo?" A minha escrita abrange uma vasta gama, desde poesia a artigos culturais, passando pela partilha de histórias pessoais de outras pessoas. Ao longo dos anos, fui aperfeiçoando a minha arte, ampliando os meus horizontes e aprendendo com as pessoas ao meu redor e além delas. Hoje, escrever é o meu propósito de vida, e encontro formas de me expressar em português, inglês ou Kiriol, sempre com a qualidade que os meus leitores esperam.
Seria hipócrita da minha parte afirmar que escrevo para todos. Embora muitos encontrem refúgio nas minhas palavras, a verdade é que escrevo, sobretudo, para mulheres como eu – mulheres negras, gordas, de pele escura, de classe trabalhadora e filhas da diáspora. Escrevo para nós porque, muitas vezes, somos as que lutam para encontrar um espaço seguro onde possamos ser visíveis, valorizadas e respeitadas. No entanto, gosto de ver e sentir o meu trabalho como um diário aberto. Não um diário fofinho, decorado com pêlo cor-de-rosa, mas um daqueles cujas chaves se perderam há muito nas memórias sombrias e retorcidas de uma criança, adolescente e mulher – sem mapa do tesouro à vista. As palavras e frases oscilam entre ondas delicadas e frágeis, narrando histórias de identidade e oração, raiva e serenidade, depressão e realização. Cada artigo, história ou poema é um pedaço de mim e de ti, um pedaço de nós; de todas nós, mulheres que pairam nas sombras do desespero, pois o sol ainda não brilhou sobre nós.
Entre todas as obras que já escrevi, a que mais ressoa comigo, em todas as suas dimensões e interseccionalidades, é sem dúvida "Resistindo ao Genocídio Linguístico", que escrevi para The Republic. Este ensaio começou como um trabalho académico, mas rapidamente se transformou num portal para um caminho de autorreflexão e crescimento pessoal. Nele, analiso as mudanças no domínio linguístico a nível mundial, focando-me depois na Guiné-Bissau, o meu país de origem, e evoluindo para uma carta dolorosa dirigida a todas as crianças da diáspora que perderam conexões significativas com o seu património devido a barreiras linguísticas ou às razões por detrás delas.
Descreveria o processo de escrita de "Resistindo ao Genocídio Linguístico" como difícil e simultaneamente doloroso. Foi, sem dúvida, um dos ensaios mais complicados que escrevi até hoje, devido à história que partilhamos. Desvendar realidades duras que dizem respeito não só aos guineenses, mas também a outros falantes nativos em diferentes partes do mundo, foi um verdadeiro desafio. Comecei por analisar a minha relação com o Kiriol e decidi aprofundar, examinando como os meus pais imigrantes e outras famílias ao nosso redor lidaram com a questão linguística.
Ao perceber que crianças da diáspora, como eu, enfrentam quase os mesmos problemas com a língua, senti a necessidade de compreender, para além de uma perspetiva decolonial, o que construiu esta relação de amor-ódio entre a nossa língua franca e as gerações mais jovens, e tentar perceber porque é que tantos pais preferem que os seus filhos falem português.
A criação do ensaio envolveu uma pesquisa minuciosa sobre o genocídio linguístico no Sul Global e a recolha de informações valiosas através de pensadores como Fanon, Said e Spivak. Aprofundei, então, a história da Guiné-Bissau, particularmente o seu passado colonial sob domínio português, estudando o impacto da colonização nas línguas e culturas do país, bem como os esforços para preservar as línguas indígenas.
No ensaio, discuti como a colonização moldou a língua na Guiné-Bissau, incluindo as políticas de assimilação linguística e a marginalização das línguas indígenas, destacando o impacto na identidade e no património cultural. Também examinei os esforços dos guineenses para resistir ao genocídio linguístico e preservar as suas línguas indígenas, apesar das pressões coloniais, abordando iniciativas locais, ativismo linguístico e o papel da educação.
Refleti também sobre as implicações mais amplas para a preservação linguística e a identidade cultural a nível global, entrevistando Mamadou Ba, um académico linguístico em Portugal e fundador da SOS Racismo. Durante todo o processo, procurei manter uma narrativa clara e coesa, sustentada por evidências e exemplos, ao mesmo tempo que envolvia o leitor com uma argumentação convincente.
Como filha de imigrantes e migrante económica, vivi sempre com a sensação de que as minhas raízes, língua e identidade eram subalternas à terra onde nasci: Portugal. Hoje, poder escrever de forma eloquente sobre este e outros problemas sociais que afetam a Guiné-Bissau é um ato revolucionário. Ao contar as nossas experiências e o impacto do colonialismo e da colonialidade nos nossos espaços, escritoras como eu garantem que as histórias dos seus países não sejam esquecidas e que as suas marcas no campo literário sejam bem visíveis.
4. Quais são os países entre os quais te movimentaste na tua vida? Vives em Portugal desde quando? Se já não vives em Portugal, em qual período da tua vida viveste no país?
- Portugal and Reino Unido. Nasci e cresci em Portugal mas mudei-me para o Reino Unido aos 19 anos e cá estou desde então.
5. Quais outras mulheres são, para ti, exemplos a seguir na vida e na prática intelectual? Por qual razão?
- Há muitas mulheres que me inspiram, tanto a nível pessoal quanto profissional. No plano pessoal, destacaria sem hesitação a minha mãe e várias das minhas amigas. Elas lembram-me constantemente da importância que tenho nas suas vidas e expressam orgulho em quem sou, mas a verdade é que eu não estaria aqui se não fosse por muitas delas. As diferentes interseccionalidades que me moldam são a base de tudo, mas elas são os pilares que sustentam essa base.
No campo intelectual, sinto-me profundamente motivada por mulheres negras, que são uma fonte inesgotável de inspiração para que eu continue a lutar por um mundo melhor. Mulheres como Patricia Hill Collins, Toni Morrison, bell hooks, Ijeoma Umebinyuo, Mikki Kendall, Maryse Condé e Chimamanda Ngozi Adichie alcançaram patamares intelectuais que me desafiam e incentivam a utilizar a escrita não apenas como um símbolo de resistência pró-decolonialidade e interseccionalidade, mas também como uma ferramenta poderosa para empoderar as mulheres ao meu redor, mostrando-lhes do que somos capazes, e para desafiar os homens, lembrando-lhes que ainda há muito trabalho a ser feito do lado deles. É através dessa partilha de saberes e experiências que podemos construir uma sociedade mais justa e equitativa.
6. A tua atividade de escrita (literária, jornalística ou académica) começou em Portugal, ou se desenvolveu e potenciou noutro contexto?
- A minha relação com a escrita começou ainda em Portugal, quando era mais nova. Lembro-me de ter um certo talento, mas esses momentos estão envoltos numa névoa de memórias confusas e difíceis. Cresci num contexto onde o potencial dessa paixão se perdeu entre outras dificuldades da vida. Curiosamente, foi só mais tarde, em Inglaterra, que redescobri o meu amor pela escrita. Esse reencontro deu-se durante a terapia, onde o journaling e a poesia se tornaram ferramentas importantes para o meu autoconhecimento e cura. Participar em concursos de escrita, eventos de spoken word e a minha experiência universitária, juntamente com o interesse pela política, foram cruciais para aprimorar esta paixão. Esses momentos ajudaram-me a perceber que a escrita faz parte da minha essência e que tenho muito mais para alcançar neste caminho. As experiências que vivi em diferentes contextos consolidaram a certeza de que estou exatamente onde devo estar, pronta para explorar e expandir o meu lugar no mundo da escrita.
7. Sentes que ter um background migratório tem influenciado a tua prática de escrita? Se sim, como?
- Sem dúvida. No meu caso, desde a luta para entender a minha própria identidade até à forte assimilação que vivi desde que me lembro de existir, nunca correspondi às expectativas dos outros, porque nem sequer me conhecia a mim mesma. A experiência da imigração assemelha-se mais a um mar de espinhos. Desde as dificuldades de dominar uma nova língua até à compreensão de que a educação deixou de ser prioridade, aprende-se que colocar comida na mesa pode consumir a nossa alma e a nossa dignidade. Ainda assim, sente-se a necessidade de pintar a imigração como um conto de fadas para os outros, como se fosse um dever. Não há espaço para esgotamentos ou crises emocionais, mesmo que seja exatamente assim que te sintas na maior parte do tempo. O sucesso é o objetivo final, assim como sustentar os pais que ficaram no país de origem.
Demorei alguns anos a recompor-me e a perceber como poderia tirar proveito das ferramentas à minha disposição. E foi a escrita que mudou tudo. Quase uma década após a minha chegada, aos 18 anos, finalmente interiorizei que a imigração me empurrou bruscamente para a idade adulta. Crescer como uma mulher negra em Portugal significou enfrentar as adversidades da imigração e tudo o que isso acarreta. Contudo, a imigração construiu uma ponte entre as nossas raízes africanas, quem somos e quem podemos vir a ser.
Curiosamente, ou talvez não, só me apercebi de que era uma mulher negra quando me mudei para o Reino Unido. Foi como se uma onda de vergonha se desvanecesse, libertando-me do seu frio e permitindo-me abraçar a minha identidade com calor, nos meus próprios termos. Tudo aconteceu como tinha de acontecer, suponho.
8. Consegues – ou estás interessada em - publicar em Portugal? Se sim, onde publicas? Em caso contrário, quais as dificuldades?
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Publicar em Portugal, especialmente para quem se posiciona contra o mainstream literário, não é uma tarefa fácil, e muito menos para autores que desejam desafiar as narrativas convencionais e exaltar perspectivas interseccionais, decoloniais e anti-capitalistas. A supremacia do inglês no mercado literário global é um reflexo direto das hierarquias coloniais e imperialistas que ainda moldam a produção e circulação de conhecimento. Portugal, apesar de ser um país periférico em termos de influência global, ainda está profundamente imerso nas narrativas de glórias passadas, como as dos "grandes heróis do mar", que perpetuam uma visão eurocêntrica e imperialista da história.
Este contexto cria um ambiente hostil para obras que questionam ou desconstruem essas narrativas. Um autor que deseja romper com essas tradições encontra inúmeras barreiras, desde a falta de interesse dos editores até a possível rejeição por parte do público, que pode não estar preparado para enfrentar essas questões. Além disso, o mercado literário português é bastante conservador e dominado por uma elite cultural que mantém o status quo, dificultando ainda mais a publicação de obras que desafiem essa hegemonia.
Por estas razões, acredito que só faria sentido publicar em Portugal após ter estabelecido um nome e uma presença significativa a nível internacional, onde a diversidade de vozes e a abertura para novas narrativas são mais valorizadas. A publicação em português, nesse caso, seria uma adaptação que viria depois do sucesso em outras línguas, particularmente em inglês, que, apesar de ser a língua do colonizador, oferece uma plataforma mais ampla para alcançar leitores que compartilham de uma visão crítica do mundo.
9. Acreditas haver desafios específicos para as mulheres que escrevem e que têm um background migratório em Portugal? Achas que são os mesmos para todas elas, ou há questões que afetam várias mulheres dependendo das suas especificidades?
- Os desafios enfrentados por mulheres que escrevem e têm um background migratório em Portugal são profundos e multifacetados, enraizados nas estruturas de poder patriarcais e racistas que permeiam a sociedade portuguesa, tal como todos os outros países que se encontraram do lado errado da história. Para começar, as mulheres que não se encaixam no perfil da "escritora típica" - geralmente branca, de classe média ou alta, e sem experiência migratória - encontram inúmeras dificuldades em ser reconhecidas como autoras válidas e competentes.
O racismo estrutural e o sexismo afetam desproporcionalmente as mulheres migrantes, especialmente as que vêm de ex-colónias portuguesas ou de outros contextos marginalizados. Estas mulheres enfrentam uma dupla discriminação: por um lado, como mulheres num campo dominado por homens e, por outro, como pessoas racializadas num país que ainda luta para reconhecer e enfrentar seu passado colonial. Isso leva à marginalização das suas vozes, tanto nas esferas de publicação como na recepção crítica de seus trabalhos.
Além disso, a falta de representação e de redes de apoio agrava ainda mais esses desafios. As escritoras migrantes frequentemente têm que lidar com a invisibilidade e o preconceito, tanto do público quanto das instituições literárias. E, claro, as suas experiências e narrativas muitas vezes são vistas como "demasiado específicas" ou "não universais", o que é uma forma de desvalorizar a sua perspectiva e reduzir a relevância das suas histórias ao nicho do "exótico".
Esses desafios não são homogêneos para todas as mulheres migrantes. Há um espectro de experiências que varia conforme a cor da pele, a religião, a classe social e outros fatores identitários. Por exemplo, uma mulher negra e muçulmana enfrentará obstáculos diferentes daqueles enfrentados por uma mulher branca, embora ambas sejam migrantes. Isso mostra a necessidade de uma abordagem interseccional para entender e combater as opressões que limitam a expressão literária de mulheres migrantes em Portugal.
Portanto, é imperativo que abordemos essas questões com uma postura crítica e engajada, desafiando o sistema literário atual e criando espaços que valorizem e amplifiquem as vozes das mulheres migrantes, especialmente as que estão na intersecção de múltiplas formas de opressão. O caminho para a mudança passa pela decolonização do pensamento literário, pela promoção da diversidade e pela construção de uma cultura literária verdadeiramente inclusiva e representativa.
10. Há uma solidariedade entre as mulheres com (in)migrantes que escrevem em Portugal? Se sim, onde é que ela acontece (ex: dentro o fora dos espaços institucionais, etc)?
- Não posso falar com profundidade sobre como a indústria literária funciona em Portugal, pois grande parte do meu trabalho é realizado em inglês e voltado para um público anglófono. Embora tenha começado a investir mais na língua portuguesa, colaborando com plataformas como a BANTUMEN, ainda não estou completamente integrada no mercado literário português. No entanto, reconheço a existência de um companheirismo significativo entre as escritoras migrantes e imigrantes. Há um reconhecimento mútuo, mesmo que não estejamos todas fisicamente no mesmo espaço, o que evidencia a importância do senso de comunidade. Hoje em dia, grande parte dessa solidariedade acontece de forma virtual, pois estamos espalhadas pelos quatro cantos do mundo.
11. Acreditas ser devidamente reconhecida em Portugal pela tua prática artística e intelectual? Acreditas ser devidamente reconhecida fora do país pela tua prática Intelectual?
- Em Portugal, não me sinto devidamente reconhecida. Acredito que isso se deve, em grande parte, ao facto de o campo literário no país ser bastante fechado, especialmente para quem aborda temas como os que eu exploro. Por essa razão, acabei por construir uma plataforma de leitores e seguidores maioritariamente anglófonos, onde encontrei mais abertura e melhores oportunidades de remuneração. Fora de Portugal, a minha prática artística e intelectual é, sem dúvida, mais valorizada. A língua inglesa abriu-me portas para colaborar com várias comunidades, participar em painéis, workshops e integrar espaços que, crescendo em Portugal, nunca imaginei alcançar.
É uma situação que me entristece, sobretudo por ter nascido e crescido em Portugal. No entanto, acredito que há muitas pessoas como eu, que, em vez de esperarem por um lugar à mesa, decidiram construir a sua própria mesa, começando do zero. Esse processo tem sido extremamente enriquecedor, pois talento não nos falta.