1. Lilia Guerra, muito obrigada, mais uma vez, por ter aceite esse convite para as nossas entrevistas. Bom, eu confesso que eu sei que tu tens três romances, não é? São três romances e contos… Mas assim, me chamou mais a atenção, os que eu tive mais contacto das suas produções são Rua do Larguinho e Perifobia. E Perifobia foi um título que me chamou a atenção, me inquietou… E assim, é interessante, ele trata de uma perspetiva acho que mais sociológica… do que propriamente o tema que é a literatura e aí tu trazes um conceito: “perifobia” e isso é muito intrigante, é muito forte esse título e penso que realmente a gente consegue encarar...trazer um ponto de vista, de certa forma, crítico também para a leitura. A gente consegue observar que tanto…, claro, são textos que nos emocionam, nos tocam, mexem com a gente, mas ao mesmo tempo, têm essa coisa mais conceitual, mais da racionalidade, que desafia um pouco, que é essa fobia da periferia que fica, também, pautando um pouco essa leitura. É um exercício te confesso, assim bastante profundo. De onde é que veio esse título, como é que tu chegaste nisso, para dizer que esse conjunto de contos se deveria chamar Perifobia


Bom, primeiro eu é que agradeço pela oportunidade de falar, muito obrigada. E como você falou, são três romances agora, porque Amor Avenida está sendo relançado agora, não é? Então temos Amor Avenida, Rua do Larguinho e Amor Avenida novamente, agora com uma nova roupagem, então eu posso considerar que são três romances mesmo. Perifobia é o meu segundo livro… de contos, não é? E assim, quando eu compilei os contos para formar Perifobia e busquei por um título, eu queria falar alguma coisa sobre a fobia que eu acompanhei, durante boa parte da minha vida e ainda que eu encontro nas pessoas sobre a periferia e… às vezes uma coisa um tanto inconsciente, alguma coisa assim do tipo “Nossa, mas esse lugar onde você mora existe? Está no mapa? Você não mora, você se esconde. Como você faz para chegar na sua casa?”. E então eu… depois que escrevi Amor Avenida, que é um livro que eu escrevi mais como ouvinte, ouvindo depoimentos, coisas que eu já tinha ouvido da minha avó e ouvi da minha mãe, eu me senti um pouco livre para escrever os contos. E aí que eu tinha… o conjunto de Perifobia era tudo que eu tinha naquele momento. E eu confesso para você que eu não sabia … quando eu tive oportunidade de publicar eu não sabia se novamente eu conseguiria publicar e, como você falou, conceituar aquilo que eu sentia. Então era importante para mim fazer aquilo naquele momento. Eu acho, inclusive, que hoje eu tenho contos e escritos que abordam ainda mais essa temática da lonjura, que é alguma coisa que … que eu não fujo, não é? Mas, naquele momento eu não sabia o que iria ser o futuro, então eu queria deixar aquele conceito, e eu queria que as pessoas soubessem que eu notei que aquilo estava acontecendo, entendeu? Eu acredito que eu poderia escrever mais vinte volumes de Perifobia [risos].

2.  Entendo, sim. E tem uma coisa interessante porque eu… eu não sabia que Amor Avenida ia para a terceira edição, eu estava considerando Perifobia também um romance, na minha leitura [risos], porque é um livro que, embora ele seja de contos, ele pode também ser lido como um romance ao mesmo tempo, porque há encontros entre as personagens, eles se relacionam. Então, isso é também algo interessante que tem a ver acho que um pouco com a própria… cartografia da periferia, que são também aquelas vidas que… nessa lonjura, como tu falas, naquele emaranhado, não é? De vidas que parecem ser um pouco avulsas, como elas se encontram, como elas… muitos quotidianos se reproduzem de uma forma… assim, como uma rede, não é? Que muitas vezes são redes de vidas de mulheres, são, são… enfim, crianças, homens, que acabam tendo destinos que se encontram, que se acabam fundindo em muitos momentos, não é? Então essa escrita também me parece um pouco isso, essa rede, essa cartografia da periferia também nesse sentido. Por isso que me passou, não é isso? Eu falei “É um romance”…, que é muito interessante na tua escrita. E é um livro de relações, não é? Na minha leitura, é um livro de relações. Em relação à Rua do Larguinho, também é… eu acho que é um livro que traz um pouco mais a questão das mulheres de uma forma… assim como… um corte profundo no quotidiano delas, na subjetividade delas… Eu queria assim te perguntar, essas personagens que tu crias, não só na Rua do Larguinho, dessas mulheres, mas também Perifobia da mesma forma… são inspiradas em pessoas reais ou tu fazes uma ficção a partir do, enfim…, do quotidiano?


Ah não, é bem inspirado em pessoas que eu conheci. Tem muita inspiração ali em Rua do Larguinho. Eu tirei aqui acho que… noventa por cento. Eu me deixo criar, claro, personagens novas surgem, não é? Nas esquinas, como apoio, como ponto de apoio, mas eu gosto dessa possibilidade da inspiração, porque é uma homenagem, muitas vezes interna que eu faço… muitas vezes o leitor não sabe, por exemplo, em quem a Petit foi inspirada, mas eu sei dentro de mim e procuro… fazer essa homenagem e procurar os detalhes dos perfis e inserir ali… dentro de mim, isso me faz bastante feliz, então é bem…, é bastante inspirado. Mesmo Perifobia, Rua do Larguinho, todos os livros… acabou também de sair um livro de crónicas, chamado Crónicas para colorir a cidade e… e aí, são menos personagens, crónicas assim… a gente acaba falando de alguém mas são mais relatos do quotidiano mesmo, mas a ideia às vezes… a ideia central é-me inspirar mesmo para homenagear, inclusive nas músicas… toda a oportunidade que eu tenho para trazer essas pessoas, a minha memória e fazer com que elas vivam ali nas histórias, nos contos, eu aproveito.


3. E para publicar, Lilia? A questão da publicação também é algo interessante… Eu conversei isso, tanto com a Maria Vilani, com a Dalva, com a Zainne, é a questão da publicação, não é? Então assim, a dificuldade de publicar, como publicar? A Dalva, por exemplo, teve muito incentivo da Karine Bassi, da Venas Abertas, não é? E… no caso, a Zainne, colocou, fez um e-book público, a Dalva publica no Facebook a maioria do que ela escreve. Esse desafio de publicar, de chegar, não é? De um lado tem de onde se inspirar, de onde tirar, como é que isso vai encaixando a escrita, no teu quotidiano, não é? Tu és servidora pública, se não me engano? Tu és servidora pública, não é… da saúde, não é? Eu li isso, achei muito interessante, imagino que seja um espaço assim de muita inspiração… muito… é um espaço de muita humanidade pulsante, não é? Então imagino que daí surjam muitas ideias, muitas motivações. Mas tem esse outro lado também, de publicar, bom porque é assim… eu falava também com a Dalva na outra entrevista. Por um lado, tem essa questão de bom, vou escrever, decidir se quer escrever, vou escrever… e depois tem a questão de que escrever simplesmente não basta, não é? Precisa ser lida… a escritora precisa ser lida… e como é que ela vai buscar essa publicação, essa edição… Então como é que foi para ti isso, como é que foi tirar esses projetos de casa, do teu colo, para entregar para o mundo? Como é que foi esse processo assim?


- De desengavetar, não é? Bom, quando eu comecei em 2014 com Amor Avenida, eu não tinha a mínima ideia de como fazer para publicar…, mas eu tinha um compromisso com a minha mãe, que eu tinha feito com ela de publicar esse livro, porque Amor Avenida fala essencialmente da história dos meus pais, não é? Os meus pais têm uma história peculiar, sessenta anos de diferença de idade, o meu pai quando eu nasci com setenta e seis anos e aminha mãe com dezasseis anos… então foi uma história assim muito… e eu fiquei sabendo de tudo isso tardiamente, eu não sei se esse é o termo, talvez eu tenha ficado sabendo no momento certo, mas… enfim, eu já tinha dezasseis ou dezassete anos quando eu consegui saber alguma coisa da história. E a minha mãe sempre dizia que ela não tinha contado essa história, porque ela não tinha como provar que era verdadeira, não é? A minha mãe era uma menina negra de dezasseis anos, muito pobre e tal… que se envolveu com o meu pai, que era um homem branco casado com uma outra pessoa, que tinha uma família… E naquela época, quando ela ficou grávida, ela não tinha condições de fazer um exame de DNA, então ela preferiu guardar para ela aquela informação, porque ela tinha a certeza que ia ser questionada e que as questões físicas não iam fazer diferença, então ela preferiu guardar para ela. Então, quando eu soube, quando ela decidiu me contar tudo e eu soube daquela tristeza que ela sentia por não ter conseguido na época… contar o que tinha acontecido, eu falei para ela, “Olha, eu vou tentar contar essa história”. Eu sempre fui uma leitora, a minha mãe me matriculou numa biblioteca, eu tinha seis anos de idade, então eu sempre gostei muito de livros e eu… eu achei que a melhor maneira de contar a história de uma forma ampla, embora eu achasse que poucas pessoas teriam acesso, mas eu faria minha parte… era através de livro. Mas essa publicação foi paga. Eu paguei assim… com bastante dificuldade, mas procurei uma pessoa que pudesse me orientar, assim… com questões de edição, de gráfica, tal… e aí paguei e foram poucos exemplares. Mas aí, quando eu vi o livro pronto e me senti livre para escrever outras coisas, depois de ficar escrevendo aqueles depoimentos, montando aqueles depoimentos que eu ouvia, eu senti vontade de escrever outras coisas, sem que alguém me dissesse “Olha, escreve isso”, inclusive eu até explico isso na nova edição de Amor Avenida, minha mãe sempre queria falar comigo sobre algum trecho que ela considerava importante para o livro, ou pessoalmente ou por telefone, ela falava “Olha, escreve isso, é importante”. Ela parava tudo… Então eu não tinha mais aquele “Escreve isso, é importante” vindo de alguém, não é? Eu tinha o meu, não é? E aí, eu comecei a frequentar oficinas de criação literária, muito naturalmente, assim… via alguma coisa na internet, resolvi participar. E aí essas oficinas me levaram a conhecer pessoas que tinham caminhos, que conheciam outras pessoas e aí viabilizaram a publicação de Perifobia, isso viabilizou a publicação de Perifobia. E aí Rua do Larguinho já estava praticamente também em andamento… e as publicações aconteceram sempre pela mesma editora, depois de Amor Avenida, vem Perifobia pela Patuá, Rua do Larguinho… agora Crónicas para colorir a cidade, novo Amor Avenida e três volumes de novelas, novelas que escrevi para o rádio, não é? Então assim, eu tive essa parceria com a Patuá e aí a publicação se deu assim…, mas num primeiro momento foi bem difícil, foi bem complicado. E eu tenho consciência que é muito complicado ainda para muita gente que escreve…, e aí precisa de publicar. Mas não só publicar também… divulgar e você escreve e tal, mas assim, a abrangência acaba ficando às vezes muito limitada, as pessoas que você quer alcançar às vezes não consegue… Eu queria muito que Rua do Larguinho fosse lido por alunos… de repente sei lá Ensino Médio… às vezes você escreve pensando num público específico… e aí, às vezes, o desafio não é nem publicar, mas alcançar essas pessoas… com o objeto.


4. Sim, sim, é. Publicar é o segundo passo, mas assim, efetivamente, criar leitores… enfim…e, de certa forma, não só leitores direcionados. Eu penso que esse desafio de atravessar também… de chegar a públicos inesperados, a leitores inesperados… é uma coisa importante, não é? Mas assim, eu vejo também muito otimismo, porque nas escolas está havendo já uma motivação maior para que sejam lidos escritores fora da caixa…, escritores e escritoras mais jovens, não é? E periféricos, na maioria, que… enfim, estão fora da caixa no sentido em que eles não estão em grandes editoras, não estão no grande mercado editorial, não estão circulando nos grandes… veículos de comunicação, não é? Eu vejo também com muito otimismo que, enfim… no ambiente escolar, as coisas podem acontecer.


Eu queria muito que este público que participa dessas experiências que os livros contam, lessem aquilo e se identificassem… e conseguissem compreender e falar “Finalmente um ambiente que eu consigo me enxergar”. Então faria muita falta, muita falta… Eu não conseguia me encontrar ali nos ambientes das histórias que eu lia, não é?


5. É…não, exatamente, exatamente… eu acho que essa identificação é um princípio que até é atraente para esses projetos de leitura nas escolas… porque realmente é difícil fazer as pessoas se interessarem por vidas, por situações que não têm nada a ver… com elas. É uma dificuldade que você tem…, principalmente o leitor iniciante… o leitor iniciante dificilmente vai se atrair… pode ser que se atraia por um filme, uma série, alguma coisa que não tenha a ver com o quotidiano dele. Mas para ler, não é? A leitura tem uma…, ela exige uma intimidade, uma… até a linguagem utilizada, ela captura, ou não. E também nesse sentido, a linguagem, o teu estilo assim, ele… tu tens uma densidade muito grande na escrita… tu descreves bastante, mas ao mesmo tempo é muito direta… no que está acontecendo, no que está sendo exposto. Ela tem um pouco essa linguagem fílmica também, assim… muitas vezes eu começo a ver flashes assim… na tua narrativa, esses flashes do quotidiano. Eu conversei com a Zainne e ela me disse que ela fica… observando, principalmente no transporte coletivo, ônibus, metro, essas coisas, ela fica… observando as pessoas e isso passa um pouco para a escrita dela também. Mas essa tua… no teu caso, a tua escrita, que eu começo vendo como se fosse um filme rodando, por cenas, porque tu és muito direta, fala e a coisa está ali… e ao mesmo tempo tem uma descrição e a gente de imediato já imagina a cena. Não é uma coisa que vai-se revelando simplesmente… ela vai-se revelando, mas tem uma nitidez muito grande. Eu queria saber como é tu fazes essa coisa… Não sei se é uma coisa mais técnica mesmo, ou se isso tem a ver com a tua forma de observação, com a tua forma de… de enxergar as situações assim.


- Não é técnico, não. Eu gostaria de falar que é uma técnica, que…, mas não é. Eu gosto de enxergar a cena antes de escrever também, também gosto… “Ah, fulano vai morrer. Como é esse velório? Vamos lá ver”. Então eu vou e eu gosto de ver e montar na minha mente e ficar ali pensando, quem estava lá…, até os coadjuvantes…, mas eu enxergo tudo antes e gosto muito de montar. E a observação é inevitável, não é? Porque tudo começou também assim, com essas observações. O morador periférico passa muito tempo no transporte público, não é, a caminho do trabalho… Eu moro num bairro periférico e trabalho num bairro periférico. Até bem pouco tempo, eu tinha dois vínculos empregatístios, agora estou só com um… formal, não é? Mas também era uma periferia… então eu ia para um bairro periférico de manhã, para outro à tarde, vinha para minha casa…, então passava muito tempo no transporte público, ônibus, trem… e não tinha como não observar, não é? Eu tenho até que me policiar, às vezes, porque às vezes eu me pego encarando mesmo… e assim, eu olhos para os detalhes, para a sacolinha ali, eu fico imaginando… “O que é que tem dentro dessa sacola? Qual é o cardápio dessa marmita? O que é que aconteceu? Será que está no horário? O que é que foi?” Então assim, eu faço muitas anotações… antes eu conseguia fazer anotações mentais, agora já estou assim dando defeito, não é? [risos] Então ou no celular ou fazer uma anotação mesmo numa caderneta ou assim, eu sempre utilizo… aquela moça que estava ali dormindo, detalhes, não é? Uma coisa que me marcou muito foi… já faz algum tempo, não é? Eu estava sentada e tinha uma moça em pé. E aí, eu comecei a ver que a camisa dela começou a ficar manchada, manchada… E aí, aquela moça estava amamentando, não é? E aí, o bebé estava em casa, claro e o leite começou a sair porque ninguém consumiu. E essas coisas me deixam assim, sabe? Eu não tenho como não observar, não notar, não é? Porque aí levo a pensar “Quem é esse bebé?, Quem é que está com ele em casa?, Quem o foi pegar na creche? Se a mãe está ali ainda e já não é um horário mais em que as creches estão abertas…” Então eu vou pensando em tudo isso e são coisas que, às vezes, algumas pessoas que não passam por essas experiências não vão compartilhar delas se algum dia elas não verem isso anotado em algum lugar, não é? Então eu tenho vontade de contar, para que as pessoas saibam de tudo isso.


6. É muito interessante… talvez um dia nós possamos ver Lilia Guerra também no cinema.


-  A trilha sonora já está pronta, não é? Porque eu ainda faço a trilha… porque, além de tudo, assim, eu faço muitas coisas durante transporte. Se eu estiver sentada, eu tenho um livro, eu tenho phones de ouvido, eu tenho sempre um crochê iniciado… então eu enjoando de uma coisa, vou pegando na outra, não é? E às vezes eu estou pensando em escrever e a música está rolando no meu ouvido, não é?


SO: É, tu tens epígrafes de músicas também no Rua do Larguinho, não é?


LG: Tem no Perifobia, no Rua do Larguinho… Eu sempre costumo… aproveitar a deixa para falar de alguém que eu gosto muito [risos].


7. É, tem sempre uma trilha sonora acompanhando…


É, eu sou colecionadora de vinil… eu coleciono vinil, então assim, eu sou capaz de descer de um ônibus se eu vir uma banquinha de disco. Se eu estiver com tempo, eu desço e vou lá ver, “checkar” … então assim, a música é muito presente para mim. E eu considero a música a minha primeira literatura, não é? A primeira coisa que eu comecei a ler na vida foram capas de disco, não é? Então… eu gosto de ouvir assim e pensar que aqueles compositores nada mais são do que escritores, não é?


8. São… eu comecei a me interessar bastante pela literatura de periferia a partir do rap. E eu vim do rap e as pessoas diziam para alguns “Ah, mas isso não é música”. E eu falei “Não, mas eu ouço pela poesia em primeiro lugar, pela literatura disso”.


Eu ouço muito rap mas essencialmente samba… todos os dias, todos os dias. Então, não tem como… E aí, eu também quero homenagear esses artistas que fazem parte da minha vida, não é? E eu fico pensando “Olha, eu consigo inserir tal coisa”. Rua do Larguinho são só mulheres, não é? As músicas são só de artistas femininas, mas no Perifobiadeu uma misturada. Agora novelas que eu escrevi para o rádio, eu deitei, rolei, não é? Porque aí é uma simulação de uma rádio, são três volumes de simulação de programação de rádio… Entre intervalos e novelas e horóscopo e toda aquela coisa maravilhosa que… Que hoje eu ouço menos rádio, mas quando eu ouvia muito, era assim que funcionava… e música, não é? E aí eu me permiti também sair um pouco dessa esfera do samba, que eu faço mais… mas como eu ouvia muita rádio ao ar livre na infância, eu dei uma misturada, não é? Fui atrás das músicas que eu me lembrava de ouvir no rádio.


9. Bacana isso…essa de mistura de literatura com música, de criar uma trilha sonora, de criar um… feixe poético também que envolve a tua prosa. Lilia, muito obrigada pela entrevista. Espero que nos falemos outras vezes. Vou ler mais…, fiquei agora com vontade de ler. Vou ler a segunda edição, provavelmente, do Amor Avenida, com essa história contada pela tua mãe, não é? Eu acho que isso é ainda uma motivação a mais…,eu acho que é muito bacana isso, a filha escrever a partir da escuta da mãe,  isso é muito bonito. E também são mulheres que precisavam da literatura para que essa história pudesse… enfim, existir para além da memória ou se tornar ainda uma memória para ti também e, enfim, para todos os leitores e leitoras. Então está minha querida, muito obrigada, mais uma vez. Nós vamos procurar ter mais contacto também com as tuas produções. Eu tenho um grupo de trabalho com bolsistas… e assim, eu confesso…, eu percebi assim, uma grande reverência de outros escritores de periferia ao falar teu nome. E eu fiquei assim, falei “Nossa, que maravilha, são contemporâneos e estão ali… a Lilia está sendo recomendada por essas mesmo que eu citei aqui, por essas escritoras mesmo que eu falei aqui, a Dalva…” Então assim, isso é muito bonito e assim, eu acho que tu és, talvez, uma grande referência para os teus contemporâneos e contemporâneas, isso é maravilhoso, é maravilhoso.


Também são referência assim para mim. A Zainne, a escrita dela fala muito comigo… a Dalva nem posso dizer, não é? O trabalho que ela tem feito…ela chama de “livrinho”, mas o livrinho vai passando. São aquelas pessoas que a gente fala “puxa vida”… e eu também os reverencio certamente.


10. É maravilhoso, é maravilhoso ver a partir de outros escritores e escritoras e também ter falado contigo, conhecer… Eu não conheço toda a tua obra, confesso…, mas vou procurar ler e discutir também com o meu grupo e… vamos levar adiante. Também sou professora e sou professora de outras professoras e tudo… e eu acho que a tua escrita, com certeza vai ter esse destino que tu sonhas, de chegar…porque fala muito, conversa muito com todos nós. Então um grande abraço, muita satisfação. Até mais.

Um abraço. Até.